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terça-feira, 24 de setembro de 2013

A busca da Igualdade Racial: uma luta permanente contra a exclusão política, econômica e social


Foto: quebala.blogspot.com

A questão racial no Brasil vem de um contexto histórico, dos tempos do Brasil colônia, que em grosso modo poderia ser traduzido como sendo o uso e dominação de homens e mulheres, trazidos à força de suas origens, formando senzalas para servir senhores e senhoras da Casa Grande e que a resistência significava tortura e morte.


Meu primeiro contato histórico-científico com esse apaixonante tema aconteceu em 1989, quando ganhei da minha companheira o Livro: “Retrato em Branco em Negro”, da antropóloga Lilia Schwarcz. Um livro que trazia a visão da imprensa paulista sobre a questão da escravidão, sobre os escravos e como foram abandonados pela sociedade, após a abolição da escravatura. Foi uma leitura impactante, pois defendia que na prática, a verdadeira escravidão ocorrera após a abolição.


Como militante político e coordenador na época de um projeto de mutirão habitacional, com pessoas vindas de várias partes do país, vivia na pele a discriminação e as portas fechadas para todas as nossas necessidades. O caminho mais natural foi à resistência, a indignação e a solidariedade a todas as lutas pela igualdade.


A identificação com a causa dos negros e negras no Brasil se deu automaticamente pela identidade da causa: a luta histórica, a resistência e a luta constante contra a toda forma de discriminação econômica, política e social.


Numa entrevista, Lilia faz uma revelação: “Aqui no Brasil, “ninguém é racista”, como determinou, em 1988, no centenário da Abolição, uma pesquisa cujos resultados eram sintomáticos: 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito. Mas, ao serem perguntados se conheciam pessoas e situações que revelavam a discriminação racial no país, 98% responderam com um sonoro “sim””.


No mundo católico, um fato ocorrido em 1981, idealizado por D. Helder Câmara, Bispo de Olinda e escrita por D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, por um lado escandalizava o universo conservador da igreja, mas opor outro enchia de orgulho todos os militantes da Teologia da Libertação. A Missa dos Quilombos, que era a continuidade da Missa da Terra Sem Males, sobre a exploração do índio, pedia perdão pela conivência e pela aceitação a todos às atrocidades cometidas contra os negros e negras. Milton Nascimento foi convidado a musicar a missa. D. Pedro escreveu sobre o evento:


Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vêm sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na África mãe, no Mundo. 


Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes). 


Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".  Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exílio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda. 

D. Helder Câmara invoca Mariama na Missa dos Quilombos em 1981
Postado por Daniel Tomazoni

A luta dos negros e negras, apesar de serem equivalentes a outras lutas contra a discriminação e a exclusão, por seu contexto histórico e sua origem, possui uma dimensão maior, sentida na pele, principalmente pelas mulheres negras, que são duplamente discriminadas.

Na véspera de iniciar um trabalho maior, no sentido de colocar na pauta nacional a questão da Igualdade Racial como texto e contexto na Gestão Pública, onde o Partido dos Trabalhadores governa, é vice ou faz parte da gestão, só tenho a agradecer pela grande oportunidade que a vida me deu e agradecer especialmente aos companheiros que identificaram no meu trabalho uma contribuição num assunto tão grandioso.

O importante é que possamos nesse novo trabalho, envolver pessoas na causa, incentivar a criação de Políticas Públicas inclusivas e participativas e essas cheguem possam chegar, com clareza, na fonte para quem de fato necessita.

Negritude não é cor é vida e alma. Negritude é invocar a igualdade, é resistência pela conquista de direitos e principalmente é grito de liberdade.



Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

2 comentários:

  1. O uso e dominação de homens e mulheres , a Casa Grande, suas lutas, principalmente as mulheres negras.D. Helder grande líder da igreja.
    É com alegria que o PT traz para a pauta a Questão da Igualdade Racial.
    Parabéns!!

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  2. Precisamos pagar essa dívida enorme que ainda existe e pedir desculpas por todas as atrocidades causadas a todos os negros e negras.

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