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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ainda existem "esquerda" e "direita" no Brasil?


Há quem afirme que não existe mais nem “esquerda”, nem “direita”. Que o mundo caminha par uma terceira via: nem um capitalismo tão selvagem e nem também uma esquerda tão estatizante. A luta de classes foi superada? A fome foi exterminada?

Às vezes me pego pensando que está fora de moda ser de esquerda no país, mesmo nos fóruns apropriados, ou ainda defender o socialismo, visto que a mídia, senhora da razão da direita e da extrema direita, já determinou que não existe mais essa dualidade de ideias e nem mesmo luta de classes.

Para os que ainda não dominam essa linguagem, vale registrar a origem dos termos “esquerda” e “direita”, nascidas na Revolução Francesa (1789-1799):

Num primeiro momento eram apenas cadeiras diferenciadas na Assembleia Legislativa Francesa, onde os “jacobinos”, os representantes da pequena e média burguesia e do proletariado sentavam-se à esquerda e os “girondinos”, os representantes das elites à direita, onde os primeiros representavam a mudança, combatiam os privilégios aristocráticos ou eclesiásticos da época enquanto os “girondinos”, seus opositores surgiam como os defensores da ordem e do conservadorismo.

Em regras gerais, essa concepção, principalmente no que se refere ao campo de origem e defesa, permanece o mesmo, pelo menos em tese, pelo menos em termos de concepção.

A chegada ao governo, que representa parcela importante de poder, mudou e continua mudando o comportamento dos que se denominam de ex-esquerdistas e até de alguns que ainda se denominam ainda de esquerda. Uma contradição alimentada pelo fato de ao mesmo tempo terem que lutar contra o sistema, no sentido de manter a coerência e por outro trabalhar na manutenção do que chamam de poder.

Vale ressaltar que vários partidos considerados de esquerda, porém muito deles distantes de construírem alternativas ao poder constituído, fazem um jogo perigoso, pois trabalham com um discurso afinado de mudanças, encontrando sintonia com a população educada para não gostar de política e por outro se enveredam nos caminhos tortuosos da manutenção do sistema econômico, em nome do desenvolvimento econômico e social.

Assim, é possível afirmar a existência de um grande dilema: se por um lado conquistou-se uma parcela importante de poder, capaz de intervir pela população menos favorecida, promovendo-a a mudar de faixa econômica, por outro se recuou no tempo às formas de combate ao sistema capitalista, não só sucumbindo com algumas instancias representativas dos trabalhadores, como em alguns casos, negando direitos e até da existência da própria luta de classes.

Sou remanescente do tempo em que aprendemos que a esquerda se rege por princípios e a direita por interesse e concordo com o Frei Beto, que terminou seu texto escrito em março deste ano para a o “Brasil de Fato”, com a seguinte frase: “Quem é de esquerda não vende a alma ao mercado”. Podemos conviver, pois imaginamos que é o que move um país capitalista, mas temos que ter um Estado forte no capitalismo, para que o mercado não dê as regras. Nem um Estado intervencionista, tampouco um Estado subserviente.

Uma dessas armadilhas é o tal “terceiro setor”, que em tese supriria as falhas do Estado abandonado e falido, mas por outro lado, dentro da Tese do Estado Mínimo, nasceu para substituir o Estado em suas funções sociais.

O que devemos fazer para, pelo menos, manter a coerência? Trabalhar num primeiro momento para o fortalecimento do Estado enquanto provedor de suas causas, em benefício da população pobre e em segundo construir alternativas seguras para que essa população seja protagonista da sua própria história.

Soa bem aos meus ouvidos o Socialismo Democrático, que não pode ser entendido como socialdemocracia, até porque sempre fui crítico a tal ditadura de proletariado. Assim sendo, é algo que necessita ser discutido, ampliado seu entendimento e principalmente implantado.

Toda vez que damos voz ao povo, organizamos as instituições, criamos organismos deliberativos e principalmente capacitamos a população quanto aos seus direitos, estamos dando mais um passo rumo à possibilidade do Socialismo Democrático.

Quando o grito se encarna no poder então a educação revolucionária toma outra dimensão, pois o que foi educação contestadora passa a ser agora educação sistematizada: trata-se então de recriar, de ajudar na reinvenção da sociedade. Na fase anterior ela ajudava o grito para a derrubada de um poder hostil às massas, com elas no poder a educação passa a ser um instrumento extraordinário de ajuda para a construção da sociedade nova, para a criação do homem novo. (Paulo Freire)




Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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