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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A sociedade brasileira ainda necessita de governos ou mandatos personalistas?


Ao olharmos o comportamento da sociedade brasileira, sem querer generalizar, nota-se claramente que um herói, mesmo sendo de araque, ainda faz um grande sucesso. É a partir dessa premissa que os personalistas de plantão fazem a festa.

Segundo os especialistas, o personalismo é uma filosofia que tem como maior ênfase conduzir o homem para sua realização como pessoa, colocando-o acima de quaisquer instituições ou coletividade, pois o ser humano com sua pessoalidade é único e peculiar e essa peculiaridade impossibilita que todo o seu querer e as suas ânsias, estejam totalmente em harmonia ou satisfeitos com as vontades, aspirações ou conquistas de uma classe, grupo ou instituição.

Em outras palavras, o indivíduo personalista, não só não admite que as instituições, sejam elas quais forem, estejam acima dele, como também necessita constantemente de afago, fortes elogios e uma reverência continua.

É nesse cenário que nascem à maioria dos candidatos a cargos eletivos na política brasileira. Primeiro afasta-se o povo, com o argumento de que política não se discute ou ainda na versão atual midiática golpista, o argumento de que todo político rouba e assim tanto faz como tanto fez. Se votar é necessário e obrigatório vota-se em qualquer um, pois o resultado será o mesmo e a seguir vem à figura da boa pessoa, que entendendo os apelos da população, coloca seu tempo precioso a serviço dela. Não é uma atitude maravilhosa e humanística?

Porem, em alguns casos chega a ser deprimente. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, cidade onde cresci, tinha um vereador que perdi a conta de quantas vezes se elegeu com sua benevolência. Ele simplesmente comprou uma ambulância e levava as pessoas necessitadas ao pronto socorro e aos hospitais. Era só ligar. Não parece uma ideia genial? O que há de errado nisso? O mais interessante é que seu filho seguiu a mesma carreira do pai generoso.

Quem não conhece um político, seja de que cargo for que age dessa forma? Em muitos casos, pessoas que delapidam o patrimônio público, mas que fazem muitas obras e muitas benevolências. Uma pessoa tipo assim: Maluf.

Venho de uma cultura de resistência. De muita luta pela liberdade e assim, aprendi com os clássicos, que se alguém quer fazer com que a população seja beneficiada, coloque seu governo ou seu mandato a serviço de uma causa e essa causa resulte na libertação das pessoas que vivem de favores, mendicância ou excluídas do processo econômico e social. O que não falta são recursos e projetos nacionais para isso.

O político personalista benevolente necessita se perpetuar no poder e para isso não medirá esforços nem práticas espúrias. Quanto mais fazem pelo povo, mais o povo pobre o venera como o salvador da pátria. Em muitos casos, as Emendas Parlamentares contribuem muito para essa prática. Com isso, não respeitam as entidades representativas, os conselhos municipais, impedindo-os que se tornem consultivos e deliberativos e não querem a participação da sociedade nas decisões, para que não interfiram em sua conduta ou o rumo que traçou para si e para seu grupo.

A democracia plena, aquela que nasce das bases é ferida brutalmente a cada ação personalista e ao eleger pessoas que promovem o distanciamento do direito à participação e de controle social.

Quem nunca ouviu a seguinte frase: “As pessoas são chamadas, mas não querem participar”. Será? Por acaso foram chamadas para o processo de construção desse governo ou mandato? Conseguem entender seus direitos? Se não estão preparadas porque não preparam?

Para desconstruir essa lógica perversa só tem três caminhos: o primeiro sem briga, onde o indivíduo entra no processo sem reclamar e se fingindo que não sabe pensar, pois quem pensa logo age e é combatido ou se organiza e luta pelos seus direitos. Uma terceira opção que é a mais comum é o abandono completo de todo processo, com o argumento de que todos as chegarem ao poder são iguais e se fizerem alguma coisa é lucro.

Como dizia Paulo Freire: “Precisamos construir uma nova cultura política de natureza democrática” e transformar essa cultura numa possibilidade do surgimento de novas lideranças, que irão representar, a partir da delegação coletiva, as necessidades e os sonhos da população e em especial da que mais necessita e ainda se encontra excluída da sociedade.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

Um comentário:

  1. Meu caro Toni, não sei se minha opinião diverge da sua ou se com ela se completa. Não vejo o personalismo como uma "necessidade" da sociedade brasileira, mas como uma característica, não só dela, nossa, mas de uma imensa parcela da humanidade.

    Sim, pois será diferente da nossa a sociedade americana, que reverencia Obama, JK e Lincoln? Ou a Itália, de Berlusconi?

    Somos todos, em qualquer lugar do planeta, governados por lideranças que brotam da sociedade, por tais ou quais caminhos, as quais, levadas do topo da estrutura de comando, passam a ser reverenciadas por quase todos seus governados. Quando caem em desgraças, acabam apeadas do poder, via de regra.

    Nosso Lula tinha todas as condições objetivas e subjetivas para desenvolver um governo personalista. É carismático, fez duas gestões de inegável sucesso, que lhe garantiram alta popularidade e garantem até hoje. No entanto, teve um comportamento de estadista. Recusou-se a brigar por um perfeitamente possível terceiro mandato, soube ouvir os movimentos sociais e todos os segmentos da sociedade, soube enfrentar com altivez o massacre diário da velha mídia e da oposição insana e se recolheu quando deixou o governo. Ainda é lembrado para voltar à presidência, lidera todas pesquisas de intenção de voto - que o colocam vitorioso em primeiro turno em qualquer cenário -, mas prefere assumir a condição de simples (!?) cabo eleitoral da sua sucessora, candidata à reeleição.

    Mas dou inteira razão a você, quando menciona que os oportunistas estão de plantão, apostando não na "necessidade", mas nessa característica do povo de se encantar por populistas ávidos por implantar governos calcados na sua própria pessoa.

    Eis aí o perigo, que já vivemos em passado recente, tanto com Jânio Quadros quanto com Collor de Mello, para citar apenas os personalistas mais agressivos. A sociedade brasileira não necessita desses aí, mas de estadistas como Lula.

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