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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O que busca o povo nas ruas?

Numa breve análise das manifestações ocorridas no mês de agosto desse ano, chega-se à conclusão que do ponto de vista do exercício pleno da democracia, não há nada do que reclamar. Afinal, esquerda e direita defendem, em tese, a ideia de o povo protestar pelos seus direitos, porém é nítido que a direita só faz isso quando lhe interessa, pois não consta em seu DNA a participação como instrumento democrático.

O que se percebe é que a direita encontrou no vácuo deixado pela esquerda brasileira e pelos próprios movimentos sociais, que se distanciou do povo e das ruas há muito tempo, uma forma de intervenção no Estado Democrático de Direito, em nome da falsa defesa da liberdade de expressão e combate à corrupção. Não é o governo que está perdido, que na verdade está equivocado na sua política econômica e sim o Congresso Nacional que está à deriva. Entregue às forças reacionárias eleitas pela população que se omite ao não participar da vida política do país e entrar na onda golpista da mídia pertencente a apenas seis famílias abastadas.

Quem disse que é democrático pedir golpe, volta à ditadura ou a morte da Presidenta e do Ex-Presidente? Isso está mais para a banalização do processo democrático, do que o direito das pessoas fazerem o que quer ou ainda dizer o que pensa. O exercício democrático implica, em primeiro lugar, em respeitar os direitos constitucionais de Participação e de Controle Social das Políticas Públicas pela população. Muita gente que esteve nas ruas no último dia 16, nem imagina o que é isso ou tem seus agentes nos poderes Executivo e Legislativo, que desrespeitam diuturnamente esses direitos e como resultado disso elegem verdadeiros inimigos públicos.

Muito pior que isso, vem do fato de pessoas que foram eleitas nos dois poderes justamente, através dos partidos ditos de esquerda, para “bater de frente” com esse velho método viciado e quando chegam lá capitulam e traem suas promessas de campanha. Ou fazem o jongo para se manterem na ativa ou ainda não respeitam as bases, governando e legislando de gabinetes virando as costas para a população.

Há algum tempo num curso em Cajamar, surgiu um interessante debate em torno de algumas perguntas, como: Quando se chega à Presidência da República, ao governo de um Estado ou mesmo no governo de um município, chegou-se ao poder ou apenas aos governos? Caso o entendimento seja de que chegou apenas aos governos, qual seria um próximo passo? A discussão teve como texto e contexto a compreensão de que num país capitalista, apesar dos governos serem parte integrante do processo de poder, como o velho Marx afirmava, quem determina é o econômico.

Caso alguém tem dúvidas disso é só observar o que esta ocorrendo na atualidade. Uma crise econômica, a partir do reflexo da crise mundial; alguns erros do governo em sua equipe econômica; da escolha de método ao governar voltado principalmente para a população mais carente do país e garantir os projetos sociais e o medo de Lula voltar a governar em 2018, levou a elite brasileira reacionária e seus asseclas a saírem dos armários e ocupar as ruas pedindo golpe, volta à ditadura e morte aos governantes. Fatos como esse só mostram que o Brasil regrediu em termos de consciência crítica e principalmente em termos de organização popular suficiente para garantir o que foi conquistado à duras penas nos últimos anos e que a direita sabiamente sequestrou até o discurso criado pela esquerda.

Sem essa de dizer que a luta é contra a corrupção. O famigerado “Caixa Dois”, que garante campanhas milionárias bota todo mundo no mesmo “saco de gatos”. Se a direita de fato estivesse tão comprometida, teria aprovado o Projeto de Participação Social e principalmente votado contra o financiamento privado de campanha.

Do ponto de vista de um leigo, é de fácil interpretação dizer que o PT chegou ao poder, pois comanda o país por quatro vezes seguidas. Isso dá uma impressão de controle absoluto, assim como para a oposição e para certo número de pessoas desinformadas e comandadas pela imprensa elitizada e golpista, que todas as mazelas atuais da sociedade saíram da cabeça da Presidenta Dilma e do Partido dos Trabalhadores e o que aconteceu de bom já passou e, portanto tem que ser esquecido.

Tivemos recentemente dois tipos de manifestação no cenário nacional a do dia 16 e a do dia 20 de agosto vigente. Ambas contra a corrupção, porém com diferentes aspectos abordados que vale a pena serem comentados.

A manifestação do dia 16 comandada pela direita raivosa que não consegue admitir a derrota nas últimas eleições, pela elite da Casa Grande que até hoje não aceita a Lei Áurea e pela mídia tendenciosa e partidária, que lutou com todas as armas que tinha para impedir que o Ex-Presidente Lula fosse eleito e reeleito e principalmente que a Presidenta Dilma fosse sua sucessora e reeleita, tinha como endereço certo o desgaste do governo federal e do PT, com medo das eleições futuras, principalmente a de 2018.

Palavras de ordem e cartazes como: “Cunha é Corrupto, mas está do nosso lado”, “Pena que Dilma não foi enforcada no DOI CODI”, “Volta à Ditadura” e tantas outras barbaridades, só mostra como é a cabeça de um reacionário, ou seja, completamente vazia. Bem podiam ter protestado por outra forma de governar, pelos seus direitos que em tese foram obstruídos com os pobres ocupando o lugar e outros componentes ideológicos e de classe, mas o que se viu foi a pura banalidade de quem não admite os negros e os pobres em geral estudando em escolas públicas, o filho ou a filha do pedreiro sendo doutor, pessoas morando em casa própria, médicos cubanos fazendo o que os brasileiros se negam a fazer e tantos outros benefícios que jamais tiveram acesso.

Em contrapartida a manifestação do dia 20, com a mídia boicotando e a PM mentindo, mostrou milhares de pessoas em 24 estados pertencentes aos movimentos sociais, ainda como protagonistas de um cenário que pedia apenas pelo exercício da democracia. Críticas sim ao governo federal por sua equipe econômica, montada pra agradar o deus mercado, mas contra qualquer tipo de golpe que coloque em risco o Estado Democrático de Direito. Aí reside a grande diferença do que se chama de democracia. Um lado lhe feriu, enquanto o outro lhe potencializou.

Em continuando com esse estado de ódio permanente fundamentalista, que já custou à vida de muitos brasileiros inocentes, está em risco até as próximas eleições, pois ambos os lados irão defender o que pensam e não hesitarão quanto aos métodos. Por outro lado, vale perguntar de que lado estará a justiça e a polícia? Prendem apenas de um lado, matam sem distinção e mentem na contagem de pessoas aumentando os da direita e encolhendo os da esquerda. O que será de nós militantes de uma causa?

A partir desse cenário, onde pode estar à resposta para esse estado de barbárie? Na organização popular, em cobrar os governantes e legisladores que se elegeram para essa tarefa e capitulam, na formação continuada de quadros, na aliança popular para a defesa do que já foi conquistado e principalmente no diálogo permanente com as forças de esquerda, que ao invés de discutirem ideias ficam na disputa de pequenos poderes.

Só uma aliança popular poderá salvar a boa política.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br

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