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sábado, 23 de setembro de 2017

E quando o sol se por?

Passado, presente e futuro, que na visão normal de vida estabeleciam uma mudança cíclica na linha do tempo, hoje se confundem com pequenos ciclos, confundindo a mente da maioria do povo brasileiro. Como será o amanhã?

É de assustar, mas o passado em termos de Brasil está há pouco mais de dois anos. Um verdadeiro abismo separa o tempo da esperança de vida melhor, para os dias de hoje, que não se sabe ao certo como será sequer o dia de amanhã.  

Um mergulho no interior da Nação revela um mar de incertezas que de uma hora para outra invadiu corações e mentes de seus habitantes, principalmente os de menor poder aquisitivo. O que ontem era certeza, hoje só restou dúvidas.

Vivem-se guerras imaginárias e disputas vãs. O ódio tomou conta de uma grande parte da população, que luta pelo nada e odeia tudo. Não há projeto de mudança no país e muito menos perspectiva. Assiste-se o fim de uma era, com a morte do que se chamava de democracia representativa. A maioria dos políticos eleitos não representa ninguém e tampouco visa uma mudança na sociedade e sim, apenas e tão somente, acochambrar o velho capitalismo selvagem, em troca de privilégios, grana, fama, prestígios e principalmente enriquecimento ilícito.

Infelizmente dois terços dos políticos brasileiros da atualidade são apenas transeuntes da democracia e saqueadores do povo. Foram criados à luz do ódio plantado à política brasileira a mando da Casa Grande contra a Senzala Brasil e no senso comum de que todo político é ladrão. A boa política está na UTI junto com seus seguidores, enquanto a má política caminha a passos largos para tornar o Brasil novamente uma republiqueta dependente dos Estados Unidos e num futuro próximo novamente do FMI. Não foi atoa que o vampiro acabou com o Fundo Soberano criado no governo Lula.

Em apenas dois anos o país emergiu numa de suas piores crises, saindo de seis milhões de desempregados para mais de quinze e com o fim das principais políticas públicas que visavam o empoderamento da população e a melhoria na qualidade de vida de milhares de pessoas. Por certo essas pessoas eram felizes e nem se deram conta, que de uma hora para outra perderam simplesmente tudo. Acreditaram que a meritocracia lhes dera o que sempre sonharam e esqueceram que se tratava de uma conquista, é certo, mas construída por governos populares contra o império econômico que sempre dominou o país.

Pessoalmente tenho medo do escuro. Lembro-me de quando criança morando num sítio, onde a única luz externa era a do luar. Brincávamos nas casas com as sombras da luz de um candieiro e depois tínhamos medo na hora de dormir, lembrando-se das figuras que tínhamos projetado nas paredes. Assim está o povo brasileiro. Brincando com a sorte. Esnobaram do que tinham e hoje mal conseguem dormir com medo que o vampiro surja no meio da noite para lhes sugar, gota por gota, o sangue que ainda lhes resta, porém sem nenhuma disposição de lutarem pelo que perderam ou que certamente virão a perder..

É preciso muito determinação, companheirismo, solidariedade e trabalho em equipe com o foco na causa, para que se possa intervir nesse mar de ilusões que o PIG e a Casa Grande criaram. Só o enfrentamento organizado, com formação política e convicção de classe fará frente ao desmonte que o estado brasileiro passa na atualidade. Não haverá tréguas.

Quando o sol se por, mesmo com a falta de luz, poderemos até brincar com o que sonhamos para o amanhã, caso estejamos juntos, porém com o devido cuidado de separarmos os sonhos das fantasias e acreditarmos que a vitória só será possível se tivermos a determinação de construí-la passo a passo.

Lutar por uma causa é antes de tudo andar por entre veredas em busca do sol e de liberdade. É preciso curtir o luar e acreditar no que a minha mãe sempre diz: “Não há bem que sempre dure e mal que nunca se acabe”. Pura sabedoria. Uma frase extraída da vivência sofrida de uma família nordestina perdida em São Paulo e das experiências de seu dia a dia. Algo que a fez suportar muitas vezes a dor, em troca de momentos felizes vindos depois de muita luta.

Como dizia Paulo Freire: “A liberdade, que é uma conquista e não uma doação exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

domingo, 10 de setembro de 2017

O que existe do outro lado da ponte?


Do ponto de vista conceitual, é possível afirmar que uma ponte é qualquer estrutura que liga duas partes, interrompidas por algum obstáculo.

Do ponto de vista político e mirando na tragédia política brasileira da atualidade, se torna muito fácil analisar a “ponte” do ponto de vista do cenário político. O tal projeto “Ponte para o Futuro”, chamado pelo PMDB de projeto da modernidade e materializado pelo golpista traidor-mor, não passa de uma pinguela de material deteriorado, separando a população de um poço repleto de maldades e rodeado de vampiros sedentos por sangue humano. 

Uma ponte que levou o Brasil independente do FMI e com Fundo Soberano de reserva, de volta ao subterrâneo das trevas passadas e do ponto de vista trabalhista de volta ao início do século XX. Uma passagem rápida ao universo neoliberal e a submissão completa da classe trabalhadora ao capital.

Que fique claro, que o tal projeto foi formatado durante o primeiro governo Dilma e lançado oficialmente no encontro extraordinário que o PMDB fez, antes mesmo das últimas eleições e deixando explicito já na época, que se tratava de um projeto neoliberal, entreguista e chegando a ser pior do ponto de vista da submissão ao capital internacional, até mesmo se comparado com o do PSDB e equivalente em vários aspectos ao da Marina-Itaú.

O que é inacreditável vem do fato de não ter acontecido um rompimento político de governo naquele momento, principalmente com o PMDB. Ao contrário. O vampiro novamente foi convidado a continuar como vice da Dilma e poucos dias depois das eleições, chefiou, com total apoio do o PSDB e aliados, o golpe em curso. Um folhetim de quinta categoria do ponto de vista do enredo, bem conhecido, mas de uma sutileza maldosa fantástica, que fez o Brasil voltar em sua história há quase um século. O país que do ponto de vista do desenvolvimento econômico estava na transição da Teoria Y para a Z, volta de vez para a Teoria X, num processo quase de escravidão absoluta do ponto de vista trabalhista e enterra todos os avanços do início do século XXI.

Um fator se destaca entre tantos outros. O golpe só se viabilizou e continua a se viabilizar, seguindo seu curso natural, principalmente devido a fragilidade política que a esquerda se encontra, além do vácuo deixado pelos movimentos sociais e sindicais, ocasionando o fortalecimento da direita e o surgimento da extrema direita organizada, que resultou na eleição de dois terços do Congresso Nacional como seus representantes.

Como explicar, por exemplo, que o patronato elegeu 75% de seus representantes em função dos trabalhadores e mesmo assim, uma grande parte dessa parca representatividade trabalhista seja representada pelas centrais sindicais que apoiaram o golpe?  Por isso a força da direita de exterminar direitos e impor derrotas uma atrás da outra.

Quero crer que essa “coisa” implantada na marra, em conluio com mais da metade do Congresso e conivência com parte do judiciário, tem o real propósito de servir de passagem de toda elite brasileira para uma nova casa-grande. Algo moderno e depois disso implodir a ponte para que a senzala Brasil não ouse, por um longo tempo, atravessá-la novamente. É a volta do passado a ameaçar o futuro. É a volta da pirâmide econômica como reza o Consenso de Washington.

Aprendi com a vida que cada crise tem lá suas experiências a serem tiradas e essa que envolve o Partido dos Trabalhadores não é diferente. Há de se aprender com os erros. Punir quem tem que ser punido e usou o partido para se beneficiar. Fazer uma autocrítica pública e nacional dos erros cometidos por essas pessoas e fazer uma defesa intransigente de todos e todas do partido que estão, injustamente sendo perseguidos.

Ao usarmos a figura da ponte como metáfora, podemos analisá-la a partir das nossas interpretações da própria vida. Nesse caso a ponte pode ligar o passado ao presente, o interior do nosso ser ao mundo real, ou ainda servir de contexto para falarmos do futuro. A ponte visa uma passagem. Um caminhar para seu outro lado e quem sabe uma mudança circunstancial em nossas vidas.

Que a única ponte que tenhamos que atravessar seja a que nos leva a uma mudança da sociedade atual, para uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com