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sábado, 9 de novembro de 2013

Você conhece seus direitos de acesso às informações públicas e que temos agora uma lei anticorrupção?


A população ainda não sabe, ou ainda não tem ideia da força que três Leis Nacionais poderão fazer contra os lobistas, pessoas que querem se dar bem delapidando o patrimônio público e agora também com as empresas, que na verdade é quem dá sustentação a maior parte da corrupção no Brasil. Agora pagar propina é crime previsto em lei. 

A primeira lei é a Lei Complementar 131 de 2009, que obriga os governos a criarem a atualizarem os Portais da Transparência e nele publicitarem todas as informações pertinentes ao dia a dia de um órgão público.

A segunda é a Lei 12.527 de 2011, denominada de Lei de Acesso à Informação, que segundo a CGU – Controladoria Geral da União tem o propósito de regulamentar o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas e seus dispositivos são aplicáveis aos três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Quanto aos prazos é importante que a população saiba que:

São estabelecidos prazos para que sejam repassadas as informações ao solicitante. A resposta deve ser dada imediatamente, se estiver disponível, ou em até 20 dias, prorrogáveis por mais 10 dias. A partir do 31º dia o cidadão poderá denunciar ao Ministério Público o ocorrido.

Caberá ao SIC - Serviço de Informações ao Cidadão:

  • Protocolizar documentos e requerimentos de acesso à informação;
  • Orientar sobre os procedimentos de acesso, indicando data, local e modo como que será feita a consulta; e
  • Informar sobre a tramitação de documentos.
Ou seja, os órgãos públicos terão que criar os SICs – Serviço de Informação ao Cidadão em vários órgãos, no sentido de facilitar a vida e o acesso à informação. Além disso, as informações poderão ser solicitadas por e-mail, tendo a mesma validade em termos legais.

A terceira lei é a 12.846 de 2013, que entrará em vigor a partir de janeiro próximo, já denominada de Lei Anticorrupção Empresarial, principalmente porque enquadrará as empresas que mantém seus vínculos de fornecimento através de propinas e pela primeira vez o país possui uma lei dizendo o que corrupção.

Ouvi de um especialista do setor, o Dr.Paulo Sergio da Associação Transparência Municipal de Salvador, responsável entre outras coisas, pela implantação completa da Lei de Acesso à Informação na Prefeitura de Artur Nogueira, na gestão do Prefeito Marcelo Capelini, que a Gestão Pública no Brasil nunca mais será a mesma após a aplicação dessas três leis.

Se você for um gestor saiba que a Lei de Acesso à Informação é retroativa a qualquer prazo e agora não pune mais apenas o Prefeito e sim toda rede de colaboradores que negligenciarem as informações e se for um cidadão leia mais sobre seus direitos, que além de serem direitos constitucionais, agora tem leis que os regulamentam.

Seguem os links abaixo das três leis e uma Cartilha da CGU para maiores informações.

Você também pode ajudar a combater a corrupção e assim contribuir para a moralização na gestão pública e principalmente na política.

Lei do Portal da Transparência:

Lei de Acesso à Informação:

Cartilha da CGU da Lei de Acesso à Informação:

Lei Anticorrupção Empresarial:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12846.htm

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

É possível avaliar se uma gestão é progressista ou conservadora?




Antes de avançarmos no assunto em pauta, se faz necessária uma breve caracterização do que seria um governo progressista.

Emir Sader em seu Blog escreveu um ótimo texto com o título: “Quem é progressista e quem é de direita”, onde numa das suas caracterizações sobre esse universo afirma que progressistas são os governos, forças políticas e instituições que colocam o acento fundamental na expansão dos mercados internos de consumo popular, na extensão e fortalecimento das políticas que garantem os direitos sociais da população, que elevam continuamente o poder aquisitivo dos salários e os empregos formais, ao invés da ênfase nos ajustes fiscais, impostos pelo FMI, pelo Banco Mundial e pela OMC e aceitos pelos governos de direita. Entre os países da América Latina com essa caracterização, se encontra o Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Equador, se contrapondo ao Chile, México, Panamá, Costa Rica e Colômbia.

Avançando um pouco mais no assunto e no sentido de diferenciar das políticas neoliberais, se faz necessário entender que num país capitalista, porém com um governo progressista, se faz necessário um Estado forte, para que não fique refém do mercado, principalmente ao se buscar um equilíbrio de renda e oportunidades profissionais. Enquanto o mercado seleciona e elitiza as vagas, o Estado tem como função socializar as oportunidades, principalmente de formação e capacitação, colocando a população mais necessitada em pé de igualdade com as demais pessoas que tiveram condições diferenciadas de vida e consequentemente de estudos.

Em se pensando em Gestão Pública, aqui no Brasil o Ministério do Planejamento, através da Gespública criou o que denomina de um Modelo de Excelência em Gestão Pública. A iniciativa gerou como produto o Plano de Melhoria de Gestão, construído a partir da auto avaliação dos sete critérios que compõem o Modelo: 1) liderança; 2) estratégia e planos; 3) cidadãos e sociedade; 4) informação e conhecimento; 5) pessoas; 6) processos e 7) resultados.

O objetivo dessa iniciativa é oferecer aos gestores e à população elementos que ajudem na avaliação de um governo e se diferenciem de uma gestão apenas de resultados, onde o principal elemento seja um “choque de gestão”. Talvez quem precise de “choque” sejam alguns gestores e não a gestão. Essa necessita de um Plano de Ação com: planejamento, diagnósticos e principalmente metas construídas através de um processo participativo com os setores organizados da sociedade.

Ao ministrar o Curso Plano de Governo e Ações para Governar, pela Fundação Perseu Abramo para mais de 100 prefeituras e trabalhar a ideia de um governo com alguns elementos, ao qual denominei de marcas: governo ético, integrado, transparente e participativo, surgiu à necessidade de caracterizar, a partir de alguns elementos tecnopolíticos, o que seria um governo ideal dentro dessas marcas.

Foi com essa preocupação que resolvi arriscar em desenvolver um quadro comparativo de governos que chamei de: conservadores, em transição e progressista sustentado pelas quatro marcas descritas no parágrafo anterior.


Trata-se apenas de alguns referenciais, embasados numa breve pesquisa muita conversa com os gestores e composto por 21 Elementos Tecnopolíticos, que imagino representarem a alma de uma gestão.


Quadro de Elementos Tecnopolíticos
Comparativo a Partir do Modelo de Gestão

Elementos Tecnopolíticos
Gestão Conservadora
Gestão em Transição
Gestão Ética, Integrada, Transparente e Participava
1. Transição de Governo
Não existe
Existe de forma precária
A partir de um plano de ação, com Decreto e Lei Municipal

2. Plano de Governo
Não existe ou é desenvolvido por uma consultoria
Desenvolvido por um Grupo de Apoio Político e apresentado à sociedade sem participação
Desenvolvido por um Grupo de Trabalho a partir de reuniões participativas
3. Alianças, Composição de Governo e Apoio na Câmara
Modo Mercantilista – Apoio por troca de favores e cargos
Apoio por troca de cargos, porém com Grupo de Trabalho
Modo Programático com um Conselho Político de Governo
4. Captação de Recursos
Lobista
Lobista com uma pessoa responsável pelo Siconv
Desenvolvimento de Projetos através de Grupo de Trabalho
5. Conselhos Municipais
Consultivos
Alguns Deliberativos
Deliberativos

6. Estatuto da Cidade

Existência ignorada

Admite-se a existência, porém não e aplicado  
Pouquíssimos municípios tem o Estatuto como elemento principal da Política Urbana aplica-o na totalidade

7. Plano Diretor
Não existe ou foi elaborado por uma consultoria e somente com Audiências Públicas
Elaborado por consultoria e apresentado em Audiência Pública
Elaborado de forma participativa por regiões e com uma coordenação

8. Integração de Governo

Não existe
Apenas alguns setores trabalham integrados por necessidade
Integrado através de diversos instrumentos: Grupo Gestor, Fóruns e outros
9. Relacionamento com servidores
Ruim
Ruim
Bom e alguns servidores são convidados a compor o governo, através de Funções Gratificadas
10. Plano de Carreira para Servidores
Não existe
Não existe ou foi elaborado sem participação
Elaboração a partir de reuniões com os diversos setores e com um Grupo de Trabalho
11. Escola de Governo ou Gestão para formação dos servidores e técnicos
Não existe
Existe como intermediação com consultorias
Responsável pela formação e capacitação com o envolvimento dos funcionários
12. Orçamento ou PPA participativos
Não existem
Existem apenas nos primeiros quatro anos de governo
Existem como ferramentas essenciais de gestão com um conselho deliberativo




13. Portal da Transparência Lei Complementar 131/2009
Não existe ou apenas com informações financeiras
Existe apenas com informações financeiras e de funcionários
Existe com integração com a Lei de Acesso à Informação e com o Diário Oficial Eletrônico
14. Lei de Acesso à Informação
Lei 12527/2011
Não implantada
Em implantação ainda de forma precária
Implantação plena com os SICs, Ouvidorias e Integração do Sistema
15. Lei Anticorrupção
Lei 12846/2013
Totalmente desconhecida
Totalmente desconhecida
Conhecida, porém não implantada
16. Conferências / Fóruns / Encontros
Apenas os eventos obrigatórios
São realizados, porém sem continuidade
Integração dos eventos com os Conselhos e tarefas como desenvolvimento dos  Planos Municipais
17. Desenvolvimento Econômico e Social
Não existe como política, sem integração, porém com alguns cursos de formação técnica
Integração com alguns setores produtivos e de formação técnica e profissional
Integração através de Conselho de Desenvolvimento Econômico, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e Plano Municipal
18. Economia Solidária
Desconhecida, desrespeitada ou ignorada
Admite-se a existência, os integrantes são recebidos, porém sem nenhuma política pública específica
Existência de Fórum, Plano Municipal, Conselho e Fundo Municipal e Políticas específicas alinhadas com a SENAES
19. Assistência Social
Assistencialista
Assistencialista com algumas ações assistenciais
Trabalho assistencial de promoção com diversos convênios e formação profissional
20. Organização da Sociedade
Sem apoio
Convive-se com os setores organizados, porém não são chamados para a gestão
Respeito total e participação na gestão através de Fóruns e apoio à organização

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Os gestores públicos tem medo da juventude?

Imagem: fontefm.redefonte.com

No Brasil cinquenta milhões de jovens se preparam para o futuro, num país ainda repleto de desigualdades, a começar pela falta de emprego e no mundo esse número chega a um bilhão. Muitos desses jovens permanecem sem acesso a direitos básicos, como: saúde, educação, trabalho e cultura.

Do ponto de vista político, observa-se que a maior parte dos partidos não enxerga o jovem como alguém preparado para discutir seu futuro e assim a participação da juventude fica relegada ou a participação como número ou na parte de cultura e lazer. Esse fator inibe a juventude em sua parte mais nobre que é a contestação. Uma verdadeira revolução permanente. Os jovens querem discutir em pé de igualdade: valores, métodos e principalmente novas práticas.

Segundo a SNJ – Secretaria Nacional de Juventude, as práticas juvenis só entraram na pauta nacional a partir de 2005, com a implementação da Política Nacional de Juventude, sendo que essa ação política e também de gestão pública, tem registrado avanços significativos, como: o aumento do número de jovens no ensino superior, a retirada de milhões deles das condições de miséria e pobreza e a criação de mecanismos de participação social, a exemplo dos Conselhos e Conferências.

Esses avanços foram inseridos na Constituição Federal, através da Emenda 65 de 2010, que possibilitou entre outras ações a aprovação do Estatuto e do Plano Nacional de Juventude. Além disso, estados e municípios são chamados a aderirem à Política Nacional.

Apesar da Política Nacional, do Estatuto e do Plano Nacional, a maior parte das prefeituras não possui sequer uma ação definida com a juventude, como por exemplo, um Conselho Municipal e quando existe, ou é ignorado ou serve de base política (vulgo “garrafinhas”) para os partidos da base do governo.

Se for para fazer o que tem que ser feito, se faz necessário muito mais que a criação de um conselho. É necessário respeitar a juventude e enxergá-la como protagonista de seu futuro.

Com a bandalheira que se tornou à velha política, com escândalos diários de corrupção, com governos sendo formados de forma mercantilista e com a o PIG – Partido da Imprensa Golpista vendendo a ideia de que política não se discute ou ainda que os Partidos Políticos no Brasil sejam de mentirinha, é provável que os jovens não queiram de fato discutir política e nem mesmo participar ativamente dela, mas estarão de prontidão para apoiarem quaisquer ações que venham a se tornar responsáveis, como por exemplo: uma Rádio ou TV Comunitária ou na Web, um Grupo de Teatro, Dança, uma Cooperativa de Arte, uma Incubadora de Projetos Sociais e tantas outras ações.

Isso é por acaso não é participar da política? Creio que sim, apenas por caminhos novos e diferentes, se tornando algo que seduza a juventude e não tornem os jovens cada vez mais uma mercadoria a ser valorizada apenas pelo voto.

Os velhos conceitos e os velhos modelos estão sendo questionados, colocados em xeque. É necessário enxergar os porquês e estabelecer um diálogo permanente para saber de fato quais as ações contemplarão a inquietude e a vontade de inovar. Porém, sobre isso se faz necessário um comentário: os jovens não foram às ruas questionar a Política Nacional da Juventude e nem a postura da Presidenta Dilma em relação às manifestações, mas para deixar claro que querem mudanças, principalmente que não se tolera mais a corrupção e nem que essa termine em pizza quando de algum julgamento

Quem tem medo da juventude, também terá na possibilidade de interação com qualquer outro setor organizado da sociedade e assim não está preparado para governar de forma ética, integrada, transparente e participativa.

Quero expressar minha homenagem a todos os jovens que se organizam e participam.

Como dizia Che Guevara: Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

sábado, 2 de novembro de 2013

Os desafios da integração das políticas públicas


Do ponto de vista de um Plano de Governo, a integração das políticas públicas se apresenta como algo natural, a partir de uma visão simples e prática, onde em tese essa integração ocorreria, tanto pela necessidade da implantação e execução do Projeto Estratégico de Governo, contido no Plano, como pela prática de cada Secretaria no cumprimento de suas ações contidas no Projeto Estratégico.

Em regras gerais, tudo deveria ocorrer de forma natural, com a participação direta dos gestores convidados para seus devidos cargos, cientes do Plano Estratégico, com metas estabelecidas, bastando para isso um plano de ação, além de reuniões periódicas e alguns treinamentos e capacitações. A maioria delas através de consultoria contratada para esse fim, principalmente pela falta de um instrumento chamado Escola de Governo ou de Gestão.

Parece simples não é? É assim que ocorre na maioria das gestões públicas? Os gestores estão preparados para desenvolverem ações integradas e participativas? O gestor principal consegue entender  respeitar o direito de participação e de controle social?

Para os governos bem intencionados, as dificuldades começam a surgir, quando se descobre que grande parte dos gestores quer transformar seu espaço numa “caixinha de poder”, numa nova prefeitura e isso normalmente ocorre, ou pelo falta de compreensão dos compromissos técnicos, políticos e sociais que um governo democrático e popular deveria ter, ou ainda pela falta de vontade política, em cumprir normas e convenções, sem um acordo prévio. Nesse caso, a chance de dar errado é muito grande.

Outra questão importante está no fato da equipe não saber qual é o orçamento anual, qual o comprometimento do orçamento com folha de pagamento e demais compromissos. É necessário saber o que se tem e o que se pode gastar, principalmente para bem informar a população. Em geral, essas informações transitam apenas no âmbito da Secretaria de Finanças e o Gabinete do Prefeito e os demais gestores, técnicos e servidores não têm a menos ideia. Isso entre outros problemas inviabiliza a gestão do Orçamento ou do PPA participativos.

Assim como a fome que se imagina estar presente apenas na periferia ou ainda nos lugares mais pobres, onde infelizmente metade da população mundial ainda passa fome ou necessidades, esse fenômeno da falta de compartilhamento, solidariedade e integração nas instâncias de poder e que resultam em prejuízos para as políticas públicas, estão presentes bem mais perto do que se possa imaginar. Está presente, por exemplo, naquele gestor comissionado, que enxerga todo servidor como um adversário, que não o chama para entender esse o governo e tampouco para colaborar.

Os riscos e desafios constantes impostos principalmente pela transformação global impõem aos governantes, principalmente aos governos democráticos, não somente o estudo permanente no sentido de adequar o processo, mas principalmente ouvir o maior número de pessoas possíveis para que se possa construir de fato um projeto de inclusão social e de crescimento dos atores envolvidos. A integração das Políticas Públicas passa, antes de tudo por uma mudança de visão estratégica de sociedade. Da que temos para a que queremos.

Um dos maiores desafios a ser trabalhado por qualquer gestor é do ser capaz de mudar de opinião, ou seja, admitir que uma determinada Política Pública esteja errada ou perdeu a validade e que é preciso adotar uma nova. Isso impõe a necessidade de um estudo permanente, além de ouvir os setores interessados da sociedade e não me venham com o velho discurso de que o povo não está preparado. Então que tal fazer o que tem quer ser feito.

Os especialistas indicam que o primeiro passo a ser trabalhado é na melhoraria das mentes centrais do governo, assim como trabalhar no projeto político, no sentido de torná-lo participativo, através de instrumentos como: Conselho Político de Governo, Orçamento e PPA Participativos, Conselhos Gestores e Locais, Seminários, Conferências, Fóruns de Políticas Públicas e outras instancias, que tornem os atores sociais como sujeitos da história. Não podendo ser esquecido as armadilhas do senso comum, que normalmente se alinham à teoria da conspiração.   

O Governo Federal, do Governo Lula e da Presidenta Dilma, além de estabelecerem vínculos com a sociedade organizada, tem trabalhado no sentido de criar nacionalmente as Políticas, Sistemas, Planos, Conselhos e Fundos Nacionais, dando o entendimento claro de que se trata de ações compartilhadas.

A gestão de uma cidade, que inclui urbana e rural, tem que estar contida na Política Nacional de Desenvolvimento, de forma integrada e transversal com as demais políticas públicas, pois isso representa melhor aplicação dos recursos, melhor qualidade das ações desenvolvidas, como facilitará também a fiscalização por parte da população.

Para que esse processo seja eficiente, se faz necessário, entre outras coisas, que a cidade seja vista de forma matricial, porém respeitando-se os territórios, pois o que é bom para um bairro ou região poderá não ser tão necessário para outro.  Além disso, é impossível que as mudanças ocorram sem convidar os maiores interessados nessa história.

A integração das políticas públicas, aliada a uma gestão participativa, com suas diversas ferramentas, além de ser uma necessidade para uma gestão democrática e eficiente, poderá contribuir na distribuição dos recursos públicos de acordo com ordens explicitas de prioridade a partir da realidade local, além de propiciar a solução de problemas e ampliação dos serviços a partir da potencialidade de cada secretaria e cada setor específico.

Tenho muito claro de que todo o exposto acima só será possível sua implantação e consequente execução, se o governo em exercício for: ético, integrado, transparente e participativo. Do contrario é melhor continuar afirmando que governa para o povo e para isso foi eleito.


“Política se faz conversando e discutindo, não gritando...Política se faz ouvindo e somando, não subtraindo. Crescer na política é fazer simplesmente o que precisa ser feito, deixando com que os beneficiados participem com o sentimento da conquista. O mérito é de quem conquistou com o anseio. Esta é a alma da obra”. Jean Carlos Sestrem.



Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Os desafios da integração de um governo


Humanistas e militantes de diversas causas dedicam suas vidas a pensar como fazer com que o que é plantado diariamente em termos de ideias e ideais não morra e possa, além de ser cultivado, gerar mudas para que toda a humanidade possa se nutrir. É certo que para muitos, isso não passa apenas de um sonho, mas o que será do ser humano se perder a capacidade de sonhar.
Esses e outros sonhadores alimentam-se todos os dias só de pensar que sempre será possível dedicar algum tempo para melhorar a situação de quem de fato precisa e se indignam em saber que às vezes perde-se muito e se negocia tanto, apenas para se marcar uma posição ou não se afastar do poder. Por essas e outras razões, infelizmente a desigualdade acaba se tornando um fato consumado e necessita um enfrentamento constante para evitar que alguns sonhos virem pesadelos.
Ao trazer para um governo os sonhos que muitos cultivam há anos, por exemplo, o de mudar a sociedade, fazendo com que a população, principalmente a mais necessitada, seja a protagonista de sua própria história, além da complexa engrenagem que é o ato de governar, com ações produzidas peça a peça, com atores de origens diversas, de pensamentos variados e muitas vezes com objetivos e interesses bem diferentes, há uma sociedade carente repleta de pessoas que sonham, criam expectativas e depositam nos governantes, em muitos casos, sua última esperança. Assim, toda vez que um governante trai essa confiança, fere a dignidade humana.

É de se imaginar que uma das situações que pode unir a humanidade é o caos e esse caos poderia ser caracterizado pela fome, que em regras gerais nega existência de grande parte da humanidade. Porém, o que se enxerga é um caminho distante para que a fome represente apenas um pesadelo do passado. O sonho de mudar essa realidade está presente apenas no imaginário e às vezes na prática, de um pequeno número de pessoas comprometidas com um novo amanhã. O Governo Federal fez uma parte dessa história, criando programas para o fim da miséria, porém o grande desafio será a redução drástica da pobreza, que alimenta diariamente as desigualdades.

O poder existente num governo, que muitos imaginam ter, representa apenas um empréstimo cedido pelo povo e por um curto espaço e tempo. Além disso, o tempo, que é senhor da razão, avisa diariamente, que o bonde da história acabou de sair e todos estão a bordo. Sábio será aquele que usar o tempo da viagem para apreciar a paisagem, consertar o que necessita reparos, convidar o povo que encontra no caminho e quem caminha ao lado, porém a pé, para juntar-se ao grupo, fazendo com que a caminhada seja mais prazerosa.

Integrar um governo, do ponto de vista de unificar sua linguagem e suas ações, não é uma tarefa fácil, pois não é só fazer parte dele, mas fazer com que esse governo caminhe na mesma direção e para isso necessita uma luta constante contra a vaidade e interesses individuais, além de um projeto consistente construído a várias mãos.

Parece simples, porque é tão difícil? Uma possível resposta sugere uma nova cultura, algo que transforme cada “caixinha de poder” numa peça fundamental do projeto unificado de governo, que leve em consideração o fato da maioria dos colaboradores serem de origens diferentes e às vezes com poucos conhecimentos, em metas estabelecidas na busca de novos conhecimentos, com o único propósito de melhorar as mentes centrais do governo, mas também todos aqueles que se dispuser a contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e consequente melhoria também na qualidade de vida da população, em especial a população mais carente.

A militância por uma causa nos ensina, que quanto maior for à aproximação com a população, mais fácil de conhecer e se comprometer com o sonho de cada pessoa. Assim, mais vale uma ação determinada, mesmo que inconveniente, do que a convivência enganosa, onde se imagina realizar o que nem mesmo existe.

Para que se faça uma revolução nas cidades, ou seja, que se crie uma nova forma de governar, se faz necessário, antes de qualquer ação, uma mudança interior de cada gestor, que provoque a necessidade de ouvir a população em todas as suas instâncias, ter o maior número de contatos possíveis, construir novas formas de convivência, governar para fora e não para dentro e acreditar que se o povo delegou poderes, que na verdade lhes pertence, está aí a grande oportunidade de escrever ou reescrever sua história e da própria humanidade.

A integração de um governo começa no momento em cada colaborador, escolhido que foi, eleito ou nomeado para um projeto coletivo, entender que está diante de uma nobre missão e para que tudo saia do jeito que a população espera é necessário sair do individual para o coletivo. Caminhar lado a lado com o povo sem medo, receio ou vergonha, de olhar para trás. Porém, isso só será possível se esse governo ao ser formado, teve como texto e contexto, uma proposta programática escrita de forma participativa, com o maior número de pessoas possíveis e não de forma mercantilista, onde só a troca alimenta os interesses de que se junta nessa situação.

Um governo só será integrado se a ação coletiva ocorrer de corpo, alma e espírito, por cada integrante desse governo, ou seja, traduzindo usando as palavras do Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é pura realidade”.

Que a vida que proporcionou a oportunidade desses gestores transformarem os sonhos da população em realidade, além de fazê-los entender que a representação sem a interação com os atores de nada vale, seja senhora do tempo que lhes resta para governar e os faça operários leais dessa grande obra, que é a mudança efetiva na qualidade de vida da população e em especial a que mais precisa, para que cada um possa dizer no futuro: Valeu e Sempre Valerá! 

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo